Como sabemos que o vírus da Covid-19 não foi criado em laboratório?
No começo do ano de 2020 fomos todos bombardeados com o surgimento de uma nova pandemia, a pandemia do coronavírus (ou vírus Sars-cov-2 para os mais íntimos da biologia). Com isto, surgiram boatos que buscamos clarificar sob o prisma científico.
Este texto foi escrito por alunos da matéria Evolução e Diversificação da Vida na Terra — QS, ministrada pelo Professor Dr. Ricardo Jannini Sawaya, na Universidade Federal do ABC.
Autores: Gabrieli Carvalho Silva; Giovanna Kamin de Souza Kobashigawa; Guilherme Franca Oliveira; Vinicius Higuchi.
Com acontecimentos a nível mundial, é improvável que não existam pessoas, ou entidades tentando espalhar os mais diversos tipos de informações falsas. E uma das notícias falsas que mais se popularizou foi a de que o coronavírus foi criado em laboratório. Noticia esta que foi rapidamente invalidada por diversos cientistas. Mas, como podemos saber de onde saiu essa conclusão? Como os cientistas sabem que o Sars-Cov-2 teve uma origem natural? Para isso precisamos entender primeiro o que é um vírus; e como o DNA dos organismos é manipulado pelos cientistas. Conhecendo as técnicas de manipulação genética, podemos também saber quais são os rastros que essas técnicas deixam.
O que um vírus faz no nosso corpo?
Afinal, como os vírus agem no organismo? Para entendermos isso vamos fazer uma comparação com casas, imagine que o corpo humano é uma casa, e para essa casa funcionar ela precisa de energia elétrica, precisa ser limpa e organizada para que você possa viver bem dentro dela.
Até que um dia, alguém faz uma fiação irregular e começa sugar sua eletricidade, todos os equipamentos começam a parar de funcionar, as coisas começam estragar, você não consegue fazer suas funções, e tem muitos transtornos porque alguém está roubando sua energia. Os vírus funcionam de uma forma parecida, eles têm uma espécie de “espinho” que gruda na célula e faz essa célula trabalhar para ele, a célula deixa de cumprir sua função pois está usando toda sua energia adquirida para fazer o que o vírus manda — que no caso é se replicar até o momento que ela literalmente explode de tanto material genético no seu interior, espalhando vários outros vírus semelhantes no organismo, repetindo esse processos várias vezes até causar a infecção.
Assim como na casa, no momento em que você perceber que tem alguém roubando sua energia você vai buscar por aquele que está te causando transtorno e tentar resolvê-lo, no corpo humano o processo é parecido, o sistema imunológico vai atrás do agente que está causando a infecção e tenta combatê-lo, em casos mais graves quando tudo está muito danificado, pode haver sequelas mesmo que o corpo tenha conseguido enfrentar a contaminação.
Como manipular o DNA?
Há algum tempo que a humanidade sabe manipular o DNA, entretanto, manipular não significa que compreendemos completamente como o DNA funciona, sabemos que ele guarda o código para gerar um ser a partir de proteínas; sabemos também como colocar características desejadas no DNA a partir de um organismo já existente, mas estamos longe de conseguir “programar” um ser vivo.
Criando plantas geneticamente modificadas
As plantas geneticamente modificadas são o tipo de manipulação que mais está presente no cotidiano, essa modificação é feita colocando um pedaço de DNA dentro de uma bactéria do gênero Agrobacterium essas bactérias têm a capacidade de integrar o seu próprio DNA no DNA de um fungo, ou planta.
Após o gene ter sido colocado na bactéria, a flor da planta é colocada em contato com o micro-organismo modificado, e em algum tempo o óvulo da planta foi modificado e quando cultivamos a semente resultante, podemos ver na planta a característica que escolhemos — Se colocamos um gene que faz plantas maiores, a planta cultivada a partir desta semente terá um tamanho acima da media, se comparado com as da mesma espécie. — Então, quando analisado o DNA da planta é claro de onde veio a modificação, já que nós retiramos o genoma desejado de uma planta já conhecida e estudada.
Apesar desse processo ser feito com plantas, ele traduz bem como modificamos vírus, usando sequências de vírus amplamente conhecidos. Assim, quando analisamos um vírus geneticamente modificado é fácil notar sequências genéticas familiares.
Quais as evidências sobre a origem do Sars-Cov-2?
A origem do Covid-19 é alvo de muitas especulações e ainda precisa de muitos estudos para que se possa definir a fonte do vírus. Atualmente já foram identificados seis tipos de coronavírus humanos que causam infecções respiratórias graves. O vírus possui características semelhantes com as infecções causadas pelo vírus SARS, que em meados de 2002 passou de pangolins para morcegos e posteriormente para seres humanos, e com o vírus MERS-CoV, que em 2012 passou de morcegos para camelos e posteriormente para seres humanos.
Os primeiros casos de Covid-19 foram notificados no mercado de Huanan, em Wuhan na China, dessa forma, é possível que uma fonte animal estivesse no local, dada a semelhança entre os vírus anteriormente citados, é possível que esse animal seja um morcego hospedeiro da doença. Devemos nos atentar ainda a presença de hospedeiros intermediários em outros coronavírus que infectam seres humanos.
Estudos realizados por Zou e colaboradores mostram que o vírus Sars-Cov2 possui DNA 96% idêntico ao coronavírus de morcego, o vírus BatCov RaTG13. Já outro estudo realizado por Zhang e colaboradores demonstra que o Sars-Cov2 possui 91% de material genético idêntico ao coronavírus do pangolim, mamíferos encontrados na África e Ásia.
Há ainda estudos que mostram que o vírus da Covid-19 corresponde a uma recombinação entre dois outros coronavírus, um de morcego e outro desconhecido. É importante ressaltarmos a presença de uma proteína denominada Spike, que age na capacidade de ação do vírus sendo muito importante para a infecção em humanos. Nos estudos realizados, foram encontradas maiores similaridades desta proteína em relação ao coronavírus do pangolim quando comparado ao coronavírus do morcego.
A presença de tais estudos nos ajuda a entender porque o coronavírus não pode ter sido criado em laboratório. Quando se cria um vírus em laboratório, é possível encontrar marcas de manipulação em seu DNA, incluindo evidências de elementos genéticos que foram apagados ou adicionados. Essas evidências não foram encontradas no vírus Sars-cov-2.
Bibliografia
HAYES, P. Here’s How Scientists Know Coronavirus Wasn’t Made in a Lab. (2020) Disponível em: https://www.sciencealert.com/here-s-how-we-know-coronavirus-was-not-made-in-the-lab Acessado em 25-nov-2020.
How to make a transgenic plant, University of North Carolina of Chapel Hill. (2011), Disponível em: https://our.oasis.unc.edu/public_html/hhmi/hhmi-ft_learning_modules/2011/plantmodule/transgenicplants.html Acessado em 30-nov-2020.
ESPLEY, R. Making a Transgenic Plant. (2011, atualizado em 2018). Disponível em: https://www.sciencelearn.org.nz/image_maps/62-making-a-transgenic-plant Acessado em 30-nov-2020.
KOROIVA, Ricardo. Por que os cientistas acreditam que o SARS-CoV-2 COVID-19 teve origem nos morcegos e nos pangolins? — Exercício prático. (2020). Disponível em: https://www.environmentalsentinels.net/coronavirus?fbclid=IwAR230QAIRjNZvizQf8en9sWA7dl05dQmNDBHZQXv0oCeUp1h3Mq5WD_eTps. Acesso em 29-nov-2020.
Nogueira, José Vagner Delmiro. CONHECENDO A ORIGEM DO SARS-COV-2 (COVID-19) (2020). Disponível em: https://periodicos.ufms.br/index.php/sameamb/article/view/10321. Acesso em 29-nov-2020.
Khan Academy. Introdução aos vírus. Disponível em: https://pt.khanacademy.org/science/biology/biology-of-viruses/virus-biology/a/intro-to-viruses. Acesso em 6-dez-2020.